domingo, 19 de janeiro de 2014

Revelo-te

Foto: Graça Loureiro


Amo-te.

Tenho palavras para te dizer.

Procura-as nos espaços.

É lá que se estreitam os laços.

Nunca (te) vi Amor.

Sempre tive os olhos abertos.

Os braços sempre estiveram desertos.

Sempre estive longe.

Tu estiveste um pouco mais.

Deverias estar mais perto.

É uma loucura de quem não quer estar deserto.

 

Somos corpos desencontrados.

Irrompem os gritos calados.

Deslumbro-me com o teu Silêncio.

Danço com as Sombras.

Aguardo-te na Solidão perfeita das Palavras.

 

Rompe a luz

da janela fechada.

Há tempo!

É pelo buraco da fechadura

que surge a luz prateada.

 

Enterro-te vivo.

Esquartejo-te no papel.

Ficas fragmentado:

Há virgulas;

Interrogações;

pontos.

Espanta-te!

Ainda te desejo.

Escrevo sempre no pretérito imperfeito.

 

Na cama onde estás,

Não te peço tudo.

Quero aquilo que não dás.

Mas agora estás morto.

Sei-o pois consigo sentir a tua ausência no peito.

Foi um crime perfeito!

Dilui-me no papel branco.

Sou tinta.

Escorro.

Surgem palavras bonitas de ler!

Não morro!

 

Revelo-te.

Surge apenas o que interessa.

Fica o Amor

na folha impressa.

É assim que toco nos teus segredos,

quando toco o teu corpo

com os dedos.

 

Alongo-me na margem.

Beijo-te.

Estendo os braços.

Nesse momento sei

que o Amor não é uma miragem.

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