domingo, 27 de novembro de 2016

Posso pedir um desejo?




Está escuro.

Leva-me pela mão.

Deixa-as cair pela minha existência.



Está escuro.

Vês-me passar.

Ouço o assobiar.

Fico preocupada.

Podes ficar sem ar.



Não mereces estar sozinha.

Ouço os meus passos,

Seguros.

Com a silhueta inquieta,

Retribuo com um sorriso.

Não amarelo mas violeta.



Não mereces estar sozinha.

Há a luxuria nos lábios

Que me mordem a fantasia.

Há a distância dos opostos.



Há a overdose do que não há.

Há a vontade de ver a morte.

Tudo cai por terra.



Prendo-te no minuto certo

Quando te estendo a minha pele.



Está escuro.

Não mereces estar sozinha.



(roo a solidão por dentro

nos ecos do silêncio)



Mas...

posso pedir um desejo?

domingo, 20 de novembro de 2016

Promessa



Traço a perna

no meu vestido negro.



Quero quem nunca vi.

Quero quem nunca conheci.



Tenho pressa

de chegar.

Essa vontade

não consigo dominar.



Afasto o que

Cobre o monte da Deusa.

Lavo aí as minhas mãos.

Benzo os meus lábios violeta

com a água da fonte.



Prometo.



Vou levar-te ao espaço.

Vais descobrir luas

novas e minguantes.

É essa a viagem

dos amantes.



Até me doerem os lábios,

que não vês,

preciso de faíscas,

da colisão,

contra a parede

ou o colchão.

Ou do que estiver à mão

ou ao corpo.



Quero prender-te

nas algemas

dos meus dedos.

Sentir-te por dentro.



Rasga-me a máscara

do corpo.

Inunda-o, nu.

Torna-me uma extensão

de ti.



Prometo:

o vestido negro

só cairá na tua presença.



Prometo.

Logo que te conheça.

Prometo.

sábado, 12 de novembro de 2016

Não me sinto cá




Não há claridade

que apague o obscuro

das pessoas

e das coisas.



Dizes, então,

que trago a luz do desejo

no olhar.

Por isso,

não me sinto cá.



E eu digo-te

que o verão

fica à esquerda do meu peito.

Leva-me, então,

por essa estação.



Não me sinto cá.



Há um solo dominado

por cardos,

roupa por todos os lados,

que é preciso lavrar.

E é nessa jornada,

quando o sol está a pique,

que me sinto

corar.



Não me sinto cá.



O solo tem no reverso

o passado

com cicatrizes e

segredos.



Entre a saliva

e o toque,

agarra-me pelos ombros

e murmura-me,

longe dos olhares alheios,

o que é indiscreto.



Não me sinto cá.



A certeza abandona-me.

Os teus dedos esgueiram-se

para lados incertos.

Enquanto a incerteza dura,

ardo na fogueira

e crepito como uma castanha.



Magusto-me.

Já não me sinto cá.

domingo, 6 de novembro de 2016

Grito de morte


 



Sou um cadáver frio.

Tenho muitas peles guardadas

no armário.



Alimento-me das

coisas do corpo

e o coração está morto.

Apenas lateja a saliva.

Parece que ainda estou viva.



As palavras ensanguentadas

jorram dos pulsos cortados

com o punhal de vento.

Tenho os dentes

chumbados

com os desejos inconscientes.

Estarão eles

 mais perto do céu.



Debaixo da pele

existo dentro

do gesto.



Quando cai a noite

no quarto,

há uma flor

que arde

e um perfume que

condensa o orgasmo

num só grito



Morrer devia ser assim.
Ser tudo. Por agora.

Apenas um grito

de morte.