domingo, 27 de janeiro de 2013

A insónia


O meu quarto é o meu mundo
Nesse mundo mora alguém
Não sei se esse alguém me ama
Não reconheço ninguém.
Existe uma voz que me visita
Quando tudo adormeceu
Incessantemente
Toca no meu corpo
Mas não sabe ele
Que a alma morreu.
Olha-me em silêncio
Quando não o posso ver
Pois quando abro os olhos
Fico cega com a luz da sombra
que me ofusca.
Tento fugir dessa sombra
Peço à luz que não se esconda.
Agora não consigo dormir
Talvez tenha de esperar
Talvez amanha tenha o meu momento.
Agora retiro a máscara
Não me reconheço
Estou envelhecida
Parti o espelho.
Junto os pedaços
E só vejo parte de mim.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Escultor

Um dia encontrei um escultor
Que se dizia dono e senhor
da obra que criou
Quis saber como ela, sua escrava se tornou
E ele contou.....
 
 
Minha escrava, minha inspiração
Nasceu por entre as minhas mãos
Instrumentos naturais, o meu corpo,
Nada mais.
Era uma mulher sem vestes
Pois não conhecia os seus gostos
Apenas idealizei o seu corpo
quando se despe.
Fiz o barro rodopiar
por entre os meus dedos
Só para a forma lhe poder dar.
Rodopiou e lentamente
consegui delinear as suas curvas
Linhas de perfeição.
Quis desenhar os seus lábios
E senti-los como se fossem reais
E fiz a incisão com a minha língua
Para dar-lhe o sabor
do que era meu.
Acariciei-lhe o rosto
Para que sentisse o meu calor
Alisei os poros mais rugosos
E desci devagar.
Idealizei os peitos que deveriam caber na minha mão.
Demasiado grandes não.
Curvas delicadas, de pele branca
E com as pontas dos dedos
Realcei as suas saliências
Marcas da sua inocência.
Como felino sedento
Esculpi o monte de Vénus
junto à fonte do prazer
Que estava seca mas com a minha língua
desejei que água começasse a nascer.
Passei com as minhas mãos sobre a paisagem
E naquele momento, como uma criança,
Desejei que fosse real
E nessa esperança
Fechei os olhos para fantasiar
E Ela ganhou vida.
Saciei-me, por fim, na sua fonte,
De uma forma tão necessária
E deixei-me embalar por essa música
Os seus gemidos
que a fizeram cair de joelhos.
E foi nesse momento que soube
Que me iria satisfazer
Dando o melhor ao seu Senhor:
a sua possessão numa mesa de pedra num dia de inverno. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Nas chamas do Inferno


Ouvi dizer que o Amor morreu
Quem o diria?
Parece que irei à missa
De sétimo dia.
Visto-me de encarnado
E caminho pelas ruas caiadas de inocência
Triste ironia
Mas não é pura coincidência.
Vestida de encarnado
Cor do que sinto por ti
Amor tentador, puro pecado.
Levo o mundo nas mãos
E na memória as imagens
Parto rumo à tua última paragem
Para fazer-te uma homenagem

“ Sou prisioneira de ti
Mas sinto-me bem
Desejo-te muito
Não quero estar com mais ninguém.
Chamei-te pela noite
E tu no meu sonho entraste
Quando tinhas tanto para me dar
Mas partiste e não me quiseste levar.
Muitas portas fechei
Por ti me perdi
Mas foi em ti que me encontrei.
Vejo-te como o Sol com o qual fiz a noite
E a noite o meu dia.
Acendeste o meu corpo
E deitaste-te como a minha metade
Entre a ousadia e a sensualidade.
Não te dou descanso eterno, meu amor,
quero que fiques preso a mim,
Quero que ardas no inferno
Nas chamas que criei para ti (e que são nossas).”

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Secretamente, sou eu

Secretamente faço um desabafo no silêncio, que fui aceitando como meu companheiro nas horas em que aprecio a solidão. Nesses momentos torno-me uma simples sombra, um fantasma.
Tornei-me uma solitária, uma refém dos meus medos, uma prisioneira de palavras que assumi como sendo úteis e politicamente corretas para que de alguma forma conseguisse encontrar o meu lugar e me sentir bem na minha pele.
No entanto aprendi  a escrever sobre o amor (e os sentimentos em geral), sem sentir que estava a ser vulgar mas sim a espelhar nas palavras a intemporalidade desse sentimento. Espelhar aquilo que pensava que apenas as pessoas vividas ou experientes seriam capazes de escrever.
O que assumo hoje como sendo o amor? 
É algo que comparo a um lume branco que reconforta e nos dá novas perspetivas das coisas.