segunda-feira, 26 de junho de 2017

Salvar-te




Quero prender os teus gestos

no corpo

para não perder a intimidade

que trago na boca.



O peito sobe e desce.

Não caio nos braços

de ninguém.



Fazes dançar os teus

dedos em mim

e descobres o lado amargo e negro.



Fazes-me fechar os olhos.

Melodias-me.



Quero salvar-te em mim

antes que a fome nos mate.

domingo, 18 de junho de 2017

Rendes-te?




Foto: Paolo Lazzarotti

Prova-me

mas não me proves nada.



Morde-me o lábio

mas não me comas

as palavras.



Não (te) inspires.

Expira para relaxar.

Acaba a tensão.



Falha-me o chão

e eu não tenho rede.



Inventa as regras para me comportar.

Sabes, sou a exceção.

Queres dar-me a volta

mas não há volta a dar.



Faz-me suar no gelo.

Provoca-me o abismo



Não tiro a roupa.

Rendo-me.

E tu,

rendes-te?

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Há aqui qualquer coisa



Foto: Paolo Lazzarotti

Há qualquer coisa de indecente,
quando me deito comigo.
Num jeito inocente e frágil,
desarrumo o corpo
para encontrar o que o faz vibrar
como a terra.

Há qualquer coisa de indecente
na nudez inquieta
que explode nas mãos
e me faz beber a luz
da carne
quando o eco das paredes gemem.

Há qualquer coisa no contorno
incerto das coisas.

Se ficares, ensina-me a cair.
Se (te) vens, ensina-me a voar.

Eu não sei…..
mas há aqui qualquer coisa.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Se



Se surgir em flor
podes desfolhar-me.

Se surgir como areia,
não te metas comigo.
Mete-te dentro de mim
feito mar que se enrola
de fora para o in(fim)nito.

Se surgir feita caravela
e começar a divagar demais,
coloca-me a mão no ombro
e não me faças ir por viagens banais.

Se surgir como cobra,
descama-me mas não me dispas.
Agarra-me pela ponta dos cabelos
e ficarei no fio da navalha,
logo que tragas a adaga
e me deite na parede.