sexta-feira, 25 de outubro de 2013

No silêncio das Palavras


Tudo desaba no meu

mundo de papelão.

A noite faz-me sangrar.

Cortei as artérias do coração.
 

Há o grito que rompe as entranhas

de uma forma tónica.

Ouviste?

Sinto nos teus lábios

as sílabas átonas.

A palavra forma-se

com o nosso beijo.

 

Elas assumem o seu lugar.

Ficam alinhadas.

Os versos criam muralhas.

Nascido das nossas mãos,

guiados pelas aves do céu,

surge o poema.

 

Nada nos pertence.

O poema torna-se intemporal.

Tudo é eternizado

no silêncio da palavra escrita em nós.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

No teu mundo


Passo a noite a escrever.

É no silêncio dos versos

que nos encontramos

e falo de nós.

 

Caminho isolada.

Dou o meu corpo ao avançar.

Não tenho sonhos.

Reescrevo as emoções.

Agarro-me a tentações.

Os poemas desaguam no papel.

São poemas desertos.

 

O olhar afasta-se.

Há o Adeus silencioso.

Escondo-me atrás do tempo.

A luz fica inquieta.

Na minha solidão

sinto o pulsar do coração

quando me sento

para espelhar a minha alma.

 

Vejo-te na minha cama feita de nada.

Mordes o meu Silêncio.

Lanço-me sem medo no teu colo,

meu aconchego.

Consigo ver com clareza.

A tua boca é o meu Sol.

Bebes o prazer que escorre pelo meu dorso.

Acaricias-me lentamente o pescoço.

Surge o medo que me consome:

perder quem no meu corpo morre.

 

Tive medo de olhar no fundo dos teus olhos.

Os meus dedos embriagados

ressuscitam as loucuras e fantasias do Amor.

Tudo é possível.

Fechei os olhos.

Na tua boca encontrei o Céu:

O prazer infinito,

O sabor do fruto amadurecido

Uma tentação ou o fruto proibido.

 

Passei a mão pelo teu sorriso.

O teu beijo durou um infinito segundo.

Foi assim que morri nos teus braços,

que foram, por uma noite,

o meu mundo.

 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O Reino do Silêncio

 
Foto: Acácio Santos
 
 

A casa está deserta.

A janela está fechada.

As flores da jarra secaram.

Não existe luz.

O relógio marca o tempo passado.

As aves namoram as estrelas que cintilam

como os meus olhos quando te amo.

 

O Silêncio fala-me ao ouvido

Para me aconchegar,

quando o horror aparece.

Não é distante de mim.

Tenho medo porque me quer alcançar.

Tenho medo que o Sol se torne Lua

durante o dia.

 

As Palavras revelam o lado negro.

São frias como gelo.

São cortantes como punhais.

Não têm eco.

Ninguém as ouve.

Recosto-me na cadeira.

O corpo estremece.

É um jogo sangrento.

Sinto que o meu corpo desfalece.

 

O Sol ensonado quebra

Os momentos de penumbra.

Surge a alegria da madrugada:

A tua chegada.

Na tua mão deposito a minha.

Ninguém vê que estão dadas as mãos.

Estás escondido num cantinho do meu coração.

 

Renasço selvagem.

Renasço em ti,

Quando me enforco nos teus braços.

Quebra-se o Silencio.

Ele foi esmagado pelas nossas mãos.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Só para te calar!

Nasceu o Amor
e a sua raiz é tão profunda
que cruza todos os caminhos
por onde passo.
Reinvento o nome das ruas
quando penso em ti.
É um Amor branco, puro e inocente
como o sorriso de uma criança.
 
Sonho pelo dia fora.
Pela noite dentro eu corro.
Julgo que se me faltares eu morro.
Vou ver-te enquanto dormes,
voando nas asas que um Anjo me deu,
que és tu, não sou eu.
Vejo-te com a ponta dos dedos.
Os meus olhos já não me pertencem.
São teus.
 
Falo ao teu ouvido o segredo
Há algo no meu peito,
um pedaço de mim que sobrevive:
é o teu Amor que em mim vive.
A tua voz assombra a minha caverna.
Seduz-me.
Por tua causa ando na Lua
mesmo sem lá estar.
Sou tua.
Tenho receio, confesso, de não saber amar-te,
mesmo que o sangue ferva de tanto desejar-te.
 
 
Despes o que os outros veem.
Sou inteira para ti.
Consegues possuir o impossível.
Abrimos os braços para o Tempo e para o Espaço.
Eternizamos o momento
aconchegados no regaço.
Sinto os teus lábios como se os estivesses a rasgar agora.
A lembrança de cada lugar teu, eu guardo.
 
Agora voo contigo.
Vamos viajar pelo Céu.
Beijo-te, fechando-te a boca.
Gosto dos teus silêncios.
E isto é só para te calar!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A Alucinação


O corpo está nu.

A Alma está virgem.

É tudo ou nada.

No silêncio as coisas dormem na secretária.

Olho para o espelho.

Não reconheço o meu rosto.

A Liberdade está quase perdida.

Já abracei os fantasmas.

 

Pego na espada

e encosto a lâmina poética ao pescoço.

Tenho um instante de loucura.

Não posso arrancar mais nada de mim.

Posso matar a minha Vida.

 

Alucino.

Encontro a tua face na Lua cheia.

 Não tenho as mãos vazias.

A ilusão é grande.

O Sonho é maior.

Percorre-me uma força que me faz avançar.

Torno-me uma gata selvagem e percorro

as margens do teu corpo.

 

Olho pela janela.

Ninguém passa.

Ouço o bater da chuva

na minha vidraça.

Meu amante, já sei que hoje não vens.