domingo, 26 de abril de 2015

Ilusão





Foto: King Douglas

Estendo-te os lenços
que puxo da cartola
para te vendar.
Rendo-me de personificação
Serei o que te ditar
a tua imaginação.
 
Sei que me vês nua
com os meus cabelos
de tinta
permanente.
 
Abrimos arcas proibidas:
estrofes escondidas
na fantasia.
Algemo-te ao verso
que se torna viril
com o toque mágico das carícias.
 
Destilo letras para o papel
para te embriagar
com o perfume
liquido de um corpo
que não vês.
Apenas te alimentas da sua nudez.
 
Desfolhas pétala a pétala
todas as sílabas
da rosa.
Palavras mudas mas claras
como água pura
que recolhes da raiz.
Nada fala.
Tudo diz.
 
Foges para dentro de mim.
Vamos além da página.
 
E num passo de mágica
Tudo se torna real.
O sol sucede no meu corpo.
Mostro-te o mistério
escondido
debaixo do vestido.
 
Nada sai para as tuas mãos.
É tudo uma mera ilusão.



sábado, 18 de abril de 2015

Segredos do céu


 
Foto: Khuraman Yuzbas
 
 
 
Deixas-me fora de órbita.

Cega por ti.

Sufoco a cada verso teu,

linhas que me prendem

à árvore da Vida.

 

Lancetas a minha pele

com o cristal das tuas palavras.

Morro no eco

das palavras mortas

que me escreves.

Tenho a última convulsão.

 

Retira-me a Razão.

As vísceras guarda-as:

recordação de existir.

Viras-me do avesso.

Liga-me.

Perfuma-me.

Fico com a ternura

paralisada  no rosto,

de braços abertos para ti:

sombra acesa na noite.

 

Ergues as mãos para o céu

e apelas.

Absolvido de pecado,

és profano.

Deixas uma flor nos meus lábios:

beijas-me.

Percorres-me debaixo da pele

na cama acesa

onde nos recortamos como sombras.

 

Assim se santifica a nudez

e se descobrem

os segredos do Céu. 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

O Néctar


 
 
Foto: CB Tom
 
O que se passa

na tua cabeça,

não sei.

Só falo que sinto

entre as coxas.

 

Tocas o corpo quente

de roupa inexistente,

debaixo da luz molhada

da tua língua.

 

Acende-se o fogo preso

que queima

pela cintura.

Com a pele da tua mão

experimentas a água intima

da pura sedução.

 

O corpo reconhece a terra,

quando  rastejamos pelo chão.

Abre-se em flor

e é arrancado pela raiz

com o gesto

derramado na pele.

 

Deixas cair minúsculas sementes,

letras sem cais.

Atingimos o ponto certo

com as palavras:

poesia corporal.

Escorrem do favo de mel

e perpetuam

o seu sabor liquido

na tua boca.

 

Nasce, assim,

o néctar dos deuses.

 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Nudez do desejo


 
 
Foto: Inna Kowalska  

 
Percorres o meu corpo

sem rumo.

Sem Sol.

Sem Dó.

Sem pausa.

 

Reluzimos (in)discretos.

com os lábios acesos

na pele dos sentidos.

 

Fico sem corpo,

quando corro nas tuas mãos

como rio quente.

Mergulhada em seiva

a rosa abre-se.

Espalha o perfume,

essências afrodisíacas.

 

Gememos juntos

na urgência da carne

no ponto certo

do orgasmo.

 

Algo te afoga.

Algo me rompe.

Já.

 

Enterramos as Palavras.

Nada falo.

Tudo se eleva.

Torna-se mais visível no grito

hibernado na nudez

do desejo.