domingo, 22 de fevereiro de 2015

Sabias?

 
 
Foto: Liliana Karadjova
 
 
Sento-me na mesa do café.

Vamos dar as mãos e

ter dois dedos de conversa.

Vamos revelar os nossos segredos

no silêncio de um copo.

Aumenta o nível.

Senta-te na cadeira.

Não cairás daí.

 

Espera para pedir

o que desejas.

Diz-me isso ao ouvido

e não pagarás por isso.

Às vezes dizer o que vai na alma

é preciso.

Teremos uma conversa relevante

Coloquemos algum tónico

nas palavras bebidas

pela voz.

Embriagadas dentro de nós.

Somos capazes de ficar com a cabeça às voltas.

 

Não me apetece falar de coisas bonitas.

Não te vou falar de sentimentos.

Isso não dá para mim.

Não sou a tal.

Sou o que escrevo.

Sou o limite da tua imaginação.

Um hálito de poesia.

Não existo.

Sabias?

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Cativa-me


 
 
Se eu pudesse

olhar-te nos olhos

e não apenas em sonhos,

aprenderia a ver

a realidade.

Existirias de verdade.

 

Hoje não te posso

ter na mão.

Não te posso ver a cores.

Estou no século passado.

Está tudo avariado

e pouco focado.

 

Tenho de fugir de ti.

Dar às canetas

e correr pela linha fora.

Dou muitas voltas

mas não saio do papel.

 

Entranço o cabelo.

Quatro paredes já não chegam.

Mordo o lábio.

Surgem frases que nunca

chegam ao destino:

margem,

cais.

Um final feliz, talvez.

 

A luz está acesa.

Continuas sem presença.

Afinal não é suficiente.

Não quero ter de morrer

para te ver.

 

Improviso.

Escrevo Tu

e não sei

se te conheço.

Visito as palavras

por dentro

para as deitar cá para fora.

Não preciso de voz para me perceberes.

 

Não há razão para ser.

Não és para mim.

 

És um esboço.

Preciso apenas que te tornes original.

Cativa-me.

Inspira-me.

É disso que preciso:

que me ames.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Abençoo-te


 
Foto: Andreas Day
 
 
 
A Alma é

um corpo nu.

Nas mãos mantenho algemado

um Desassossego.

Restrinjo-me a uma sombra.

Piso a terra

que também serve para

morrer.

 

Tudo fica sobre terra.

Acima do Inferno.

Abaixo do céu.

Deixa que o vento

eleve as cinzas do chão.

Nada do que vive

fica no caixão.

 

Evapora a voz.

Solidifica o corpo.

Condensa o grito.

Anda nas nuvens.

Vagueia na madrugada.

Vê o dia nascer.

 

Prepara-te.

Vou levar-te

a um lugar

onde vou estender

o céu

devagar.

É um céu fechado

de Palavras.

Os anjos estão a arrumar

as estrelas

em gavetas de algodão.

 

Conhece-me por detrás

da Luz.

Desmancha o meu corpo

com os teus gestos.

Espera que corra a água pura.
 

Assim, te abençoo

no céu

com a prosa dos poetas:

 palavras de ternura

sem estrelas.