domingo, 25 de fevereiro de 2024

Sinto muito

 




Vou explicar o que sentes

e não vês.

 

Há tanto para dizer

quando ficas fechado do lado de fora

e há algo que se quer libertar

do lado de dentro.

 

Sinto muito mas

Não é Amor.

É tudo uma questão hormonal.

A serotonina e a ocitocina

que põe o coração a bater mal.

 

Não te convenças que existem

insetos na barriga.

Se assim fosse,

estarias doente.

 

Se te falta o ar,

é possível que seja asma

e que precises  de bombear.

 

provavelmente terás o pensamento limitado.

Tu dizes que apenas está focado

Tu, eu, Tu, eu, nós.

Deves alargar os horizontes, aconselho.

 

Esconde a fala.

Não pronuncies I love you

Pode ser que apenas

o sintas tu.

Lembra te que a

palavra é eterna,

a realidade pode  mudar.

 

Andas nas nuvens

e dizem te que o que sentes

não tem pernas para andar.

Naturalmente não vais ficar

perto de quem dizes amar.

 

Nada de preocupações,

há outros caminhos a percorrer.

 

A boa noticia é que

o  amor não te vai matar.

Não há certidão de óbito.

Se tens o céu na boca,

porque achas que o paraíso

está longe?

 

Sinto, sinto muito.

 

O que te escrevo

pode não te emocionar

mas as Palavras que

tens guardadas em ti

fariam chorar as pedras da calçada.

 

Sinto, sinto muito.

O amor não é uma construção

mas uma desconstrução do que sentes

para conseguires suportar o que

está na frente das tuas órbitas.

 

Sinto, sinto muito.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

A vela

 



Foto: Dora Araújo


Os gritos (da mente)

gemidos

estão presos aos dedos

escreventes.

 

O que resta é pouco:

um esqueleto descarnado,

um corpo sem alma.

 

Quando o tempo se encarregar

de decompor o que resta,

regressará à terra.

Já não encontrará a luz.

Cinza sem brasa.

 

Agora,

acende uma vela.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Espanta(lha)-te

 


A terra já esteve em pousio

para amadurecer,

enquanto aguarda o estio

para continuar a florescer.

 

O espantalho está

no campo de girassóis:

a solidão e a primavera.

 

Já não há folhas

a rodopiar com o vento.

.Não te posso escrever

 

Surge a estrela ao amanhecer

que transformam esses seres vivos

em submissos que,

giram em torno

desse fogo preso no céu.

 

(mas a solidão permanece, 

espanta(lha)-te).

domingo, 4 de fevereiro de 2024

O lugar

 


Ninguém precisa de espaço
pois ele está povoado
com corpos celestes
que se limitam a gravitar.

É necessário escolher um lugar,
de entre os muitos que existem,
a que possas chamar lar
e onde te possas perder, por vezes.

Isso acontece:

quando subtilmente agarras
o pulso do outro e
sabes que tens o coração dele
nas mãos;

quando dás o peito às emoções,
afastando os braços do corpo;

quando choras a tua morte,
Gritando dentro do poço e
apenas ouves o eco do teu silêncio;

quando não abandonas a casa
onde o teu corpo arruinado
Habita;

quando sabes que tudo
Nasce para cair, descobres
a gravidade das coisas;

quando preenches os espaços
na agenda para estares
com quem te faz caminhar
Por dentro de ti.

São nesses momentos
que encontras o teu lugar.