domingo, 30 de abril de 2017

Arte




Axel L.

Ando às voltas.

Descubro o corpo.

Sinto.

Percorro.

Invado.



Rasto viscoso

de fome.



A verticalidade

estrangula-me.



Empurro-me

contra o punhal.



Afinal,

quando as pernas

se abrem

como um cavalete,

a arte nasce.


sábado, 22 de abril de 2017

Cai mas não tropeces



Foto: Axel L.

Senta-te na mesa.

Temos de falar.



Pouso as mãos

nos teus joelhos

e digo te que sim.



Dispo-me a preceito

e coloco-me a jeito.



Queres que arda na tua fogueira

mas só acontecerá

de uma maneira:

Trazes a vela para festejar?



Porei os lábios onde quero.

Néctar.

Vou e volto.

Atinjo-te.



Com graça animal.

Faço-me bicho da terra.



No inferno

há sempre uma fonte

sempre a pingar.



Se a vela se mantém

acesa,

alguém tem de a apagar.



Enterra-a nos confins da terra.



Descobre o desejo

na gota de água.



Cuidado!

Não tropeces

no meu corpo.



Cai…………

na tentação da carne

que não levas.

domingo, 9 de abril de 2017

NÃO ME RECOMENDO




DEDICO ESTE TEXTO A TODOS OS QUE LONGE OU PERTO ME ACOMPANHAM NESTA JORNADA

8 de abril de 2017

Pois claro que não, e então?

Poderia gabar-me, por que não? Mas não faço esse tipo de avaliações pessoais. Não agrado a todos. Não sou perfeita. Não sou a rainha de Inglaterra, digamos. Sou uma pessoa banal mas não vulgar. Poderia falar de conquistas e de coisas belas e amarelas. Mas de coisas boas toda a gente gosta. Será que conseguem lidar com o escuro? Duvido. Portanto este texto não é sobre as minhas maravilhosas qualidades, lamento.

Nasci antes do tempo. Sou mais velha do que aparento. Tenho esqueletos no armário. Deve ser por isso que nem sequer vou aos saldos que é para não ter de ir mexer em teias de aranha. Prefiro saldos literários.

Dizem que estou velha e eu a julgar que estava a chegar ao auge. Bem sou uma estrela cadente.

Já me disseram que devo ter poderes especiais pelo meu olhar trocado. Sim porque isto de trocar olhares tem muito que se lhe diga. Depois de me dizerem isso, destrui os sonhos de pessoas. Limitei-me a dizer que posso provocar sentires ou qualquer coisa. Isso sim, é um grande poder.

Fui, ao longo do tempo,  um elo mais fraco que muitos julgaram incompetente. Incapaz. Julguei que seria verdade. Tenho deixado muitos de boca aberta e não sou dentista.

Sim pode dizer-se que sou assustadora porque enfeitiço os outros com as palavras que escrevo, pelo que dizem. Visto me de preto e julgam-me elegante.  Sou uma bruxa basicamente.

Ao longo de 30 anos atiraram-me areia para os olhos. Julgo que com toda essa areia poderia criar uma praia (sitio que nunca achei piada mas, segundo poetas entendidos é um local de grande inspiração). Agora que mudei de lentes vejo a praia com outros olhos.

Também já meti muita água e logo eu que nem sequer sei nadar. Talvez quisesse assim ganhar alguma prática.

Nunca me consideraram um doce de pessoa.  Pois claro que não! As formigas não andam à minha volta.

Sempre me disseram que era fria. Bem tenho as mãos com frieiras no inverno e as mãos sempre a baixa temperatura. Deve ser por isso. Portanto sou morta-viva.

Nunca fiz das pessoas rotundas. Nunca achei piada a isso pois da ultima vez que me encostei a uma fui parar ao meio das urtigas (sim é verdade) , local para onde me mandam às vezes, mesmo sem palavras.

Nunca escrevi palavras bonitas. As que tenho escrito ultimamente trazem consigo sentidos ocultos que as pessoas vêem muito alem. (Nem eu com óculos consigo ver). As fotos que coloco são religiosas até. Não tenho culpa que algumas modelos se tenham lembrado de tirar a roupa. Enfim limitações de perspetiva.

Nunca soube dizer as palavras certas no momento certo e muitas delas nem sequer me atrevo a pronunciar. Pronto não jogo com o dicionário todo. Limitações vocabulares.

Tenho consciência que se um dia deixar de escrever será por um excelente motivo ou por um péssimo motivo. Nunca se sabe. Por agora continuo a espalhar charme por ai.

Nunca soube lidar com as pessoas. Por vezes elas conseguem assustar-me. E eu tenho medo e escondo-me porque não gosto das luzes.

Dizem me que ando rasteirinha e é bem verdade.  Não gosto de usar saltos altos. Apesar disso, estou quando julgo que sou necessária.

Assusta-me a solidão e a sensação de ficar sozinha preocupa-me. 

Depois disto desejam me o feliz aniversário? Dou-vos os parabéns  :D

Coragem!

Pronto, agora acendam a luz e vão dar uma volta.

Agradeço a todos os que se lembraram desta cota :D

Um abraço daquela que está pronta para as curvas e a espalhar charme deste 1987

P.S. Deixo-vos um bolinho doce para regalarem a vista.

domingo, 2 de abril de 2017

Flores de Abril




Foto: Sebastian Faena

O vento empurra-te para mim.

Deixo cair os caracóis,

lentamente,

pelas costas.

A língua desloca-se

isolando os gritos

dos olhos fechados.



“O vestido é indecente….”

(as árvores despem-se

no Outono)

(…) “devias tirá-lo”.



E tudo cai

e se mantem firme.

A terra está orvalhada

e o corpo com impulso.



Pássaros chegam

e pousam nas ancas

e fazem o ninho entre

as pernas.



Esvoaçam.

Agitam a vida

desvendando os mistérios

do corpo,

abrindo as flores

de abril.