domingo, 23 de novembro de 2014

Deixo este Mundo


 
 
A noite está escura

com ligeiras abertas.

Deixa que o vento sopre

nas tuas mãos

e deixe a noite deserta.

 

Tenho caracóis de desejo

libertos na mente.

O tempo passa.

Encosta-te

e sente lentamente.

 

As roupas estão mortas

por cair.

Eu estou viva

Não consigo resistir (- te).

 

Agarra-me pelo contorno.

Mesmo sem movimento,

o meu corpo,

faz-te despistar,

nas curvas do teu pensar.

 

Traças o arco

e fazes vibrar as curvas

do meu corpo.

Faz jorrar

o cristal liquido

que se estilhaça

no teu desejo.

 

Descobre a Lua branca

escondida atrás do pano.

Ela brilha

não abrasa.

Deixa que um beijo quente

lhe dê luz e a deixe em brasa.
 

Traçamos assim,

pedaços de mau caminho,

quando trocamos carinhos.

 
 
Num momento vagabundo,

apanhamos os búzios

ecoados de voz

e vamos na onda.

 

Mergulhamos na água sem fundo.

Deixamo-nos flutuar.

Sabemos que o Amor é mergulhar

e deixar este Mundo

por momentos.

domingo, 16 de novembro de 2014

Reversos (In)versos


 
 
Foto: Pour le plaisir des yeux (página facebook)
 
Olho para ela.

Parede singular,

correta,

alinhada,

senhora de si.

Detesto espaços pequenos.

Gosto de estar á larga.

Abro os braços.

Chega aqui. Vou dar-te um abraço.

 

Encaracolo o cabelo

por entre os dedos

e espero que as sílabas

surjam nas ondas

do pensamento.

 

Abro o leque vocabular.

Abano-o devagar.

Aguardo que a brisa

me possa inspirar.

 

Tenho palavras debaixo da língua.

Estão escondidas

e não querem surgir.

Vou comer um chocolate

para que fiquem doces

e para a página queiram fugir.

 

Rasgo a rua.

Fico no meio da estrada.

Escrevo frases nuas.

Quando as letras dão as mãos

com singelos traços

estreito laços.

 

Gastei as palavras todas

pois não eram caras.

Palavras sombrias

em folhas brancas.

Não eram luminosas

mas fantasmagóricas.

 

O que está nas profundezas

emerge.

Surge a Palavra virgem,

diamante bruto.

Não sabe o gesto.

Não sabe a transparência.

Não sabe a invenção da existência.

 

Abro o meu corpo.

Fecho a Alma

de porta aberta,

trespassada pela sombra

que matou a voz.

 

Algo dorme no leito “paginal”.

Fluidos escorrem

nas curvas métricas do corpo.

É a Palavra que se alarga

no espaço deserto

e se perde no tempo,

chegando no momento certo.

 

Perdemos Espaço

para ganhar Liberdade.

À luz fria,

silenciosa,

crua,

esperamos que ela

escape e caia

no abismo do olhar.

 

Apaga tudo o que leste.

Olha para o lado.

Não gostes de mim.

Vinca-te apenas.

Deixa a cama desfeita.

Dorme comigo.

domingo, 9 de novembro de 2014

Um pedaço de Céu


Foto: Pour le Plaisir des yeux (página facebook) 
 

O Céu está cerrado

de Palavras.

Mordo o lábio.

Coloco as mãos na cintura.

É possível que chova.

Não sei se me abrigo

ou se me deixo molhar.

 

Letras soltas

caem sobre a capa

do corpo

vivo.

Poderás folhear-me depois.

 

A Terra destila palavras.

Cavo a sepultura

no buraco negro

da voz.

Perco o Tempo e

partilho o que me resta

contigo.

 

Fico com a cabeça

nas nuvens.

Há o perigo de a perder.

Não sei o que fazer.

 

Se os meus versos

são de água

e os teus olhos são solares,

há o risco de

chegar ao Céu.

 

O lápis

solta-se da mão.

Ressoa no Espaço,

firme chão.

Algo me diz.

 

Já não há constelações.

Apenas o rasto

de estrelas inexistentes.

Desfaço-me contra a imaginação

e cai pó estrelar.

Penetro no núcleo da página.

Uma tranquila brisa indomável

reescreve o Destino.

Segue o rasto dos sentidos.

 

Rasgo os papéis.

Oriento as Palavras.

Há tempestade na gaveta.

Suspiro gemidos.

 

Espero que o dia chegue

e abro os braços.

O Espaço é estreito.

Toco a melodia

que guardei

na Galáxia do meu Silêncio.

 

Deixo-te um pedaço de Paraíso.

É uma dádiva celestial.

Confesso:

escrevo poemas no Céu.