sexta-feira, 29 de março de 2024

O gesto

 



 Foto: Maciej Grochala

Até os cegos desejam encontrar o Amor

à primeira vista .

Varrer a rua com o olhar e esbarrar com ele

no dobrar da esquina.

 

Mesmo desconhecendo o reflexo,

encontrar na ternura noturna dos dedos

o corpo descoberto

que se consome no fogo lento

da cama improvisada do crepúsculo,

 e se transcende na convulsão do amanhecer

 

No final, guarda se a memória mental

para que possa voltar a reconhecer o Amor

na claridade do gesto.

sábado, 23 de março de 2024

Malmequer




 Foto: Ruslan Lobanov

Duas mãos assassinas  roubam  te a vida

e transformam te em beleza morta

para que possa conduzir o meu destino.

 

Atrais com as tuas cores vistosas.

No jogo das probabilidades,

arrancam te a beleza estéril:

Mal-me-quer, Bem me quer. Mal-me-quer

 

Olhei te até não seres mais nada.

O sangue transforma-se em orvalho.

Alguma saudade ainda permanece.

Já não posso preencher o vazio

que ficou, contigo.

Já não cabes lá.

 

A resposta sempre esteve lá:

Malmequer.

domingo, 17 de março de 2024

A porta da ilusão

 


Foto: Horyma

A porta está destrancada.

A intenção é fugir.

Escapar.

Deixar te para trás.

 

A porta está destrancada.

Estás a preencher o meu jardim

com as tuas flores.

Ainda não chegou a primavera.

 

A porta está destrancada.

Tens as palavras debaixo da língua

e no  movimento marítimo dela

vejo a resposta .

 

A porta está destrancada.

Atravesso – a.

Respiro o teu ar.

 

É algo tangível na ilusão:

atravessar a sua porta e acreditar 

na sua realidade.

sábado, 9 de março de 2024

A Estrela

 Foto: Pavel_Mirchuk


Viramos os olhos para dentro

onde lobos solitários,

nos desmembram e deixam à mostra

a realidade:

esqueletos brancos banhados pela luz fria.

 

Somos demasiado fracos

para a  suportar:

A Verdade encarnada

na Estrela Polar.

sábado, 2 de março de 2024

Black Widow




 Foto: Grisha Selivanov

Esta história é um prenúncio

de morte anunciada.

Escuto o silêncio solitário

acentuando, à partida,

a minha sina que me caia de negro,

como viúva.

 

O tempo marca o meu corpo

feito ampulheta.

Reconheço, que já não sou jovem.

 

O tempo muda.

 

O verão surge subitamente quando

entras na minha casa.

A tua vida é minha agora.

Já não podes ir embora.

Seremos apenas nós.

 

O que posso eu fazer,

senão alimentar me de ti?

Sei que estás de passagem

mas o veneno consome o teu corpo

sem  hesitar,

quando te toco para te agarrar.

 

Acompanho te até ao teu ultimo sopro

nupcial.

Foste um lugar onde a solidão

era impossível.

 

No final continuo Viúva Negra,

orgulhosamente..