domingo, 2 de agosto de 2015

O perfume


 
Foto: Peter Volanek
 
 
Desço da tela

esfumada

em tons esbatidos,

aos teus lábios.

 

Acende o rastilho.

Inspira-te.

Expira-me. 

 

Sente o calor

da insónia.

Perde o chão.

 

Desfia-me

em partículas suspensas.

Torno-me combustão.

 

Revolvo-te as entranhas

em ansiedade crescente.

Fica o hálito baço.

No teu corpo fechado,

fico em ti.

ficas sem cor.

 

Flutuo no vazio,

nua.

Respira o ar

onde deitas

o meu corpo.

 

 

As labaredas acendem

a tua carne.

Tolda-te o sentido.

Desfazes-me.

Recolhes as cinzas.

 

A eternidade efémera

consolida-se.

 

Sente a humidade

da terra.

Apaga a fome.

Sente o cheiro

da rosa insipida.

 

Fecha os olhos.

Sentirás o encanto

do meu perfume.

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