A paisagem que pinto
entra no meu quarto
vazio
através da janela
Que para ti crio.
Fico na margem nua.
Abandonada.
Deslizo nas curvas
claras da Palavra.
Talvez deva ir.
Talvez deva ficar.
A noite debruça-se para
o meu rosto.
A língua (gem) acaricia-o
ternamente.
O papel é a minha pele.
Rompe o grito das
entranhas.
Florescem dores
tamanhas!
São rosas que rasgam as
mãos
quando a beleza era
palpável.
Perco-me no tempo!
Abrem-se as portas.
Nas paredes agitam-se
Os fantasmas que vêm e
vão.
Perco o chão.
Agita-se a recordação.
Há palavras não
pronunciadas
que ficam presas
nas frases inacabadas.
O silêncio das Palavras
ecoa nos ouvidos.
Afastam-se os meus
passos.
Abandono-me à escuridão.
O corpo desvanece-se.
Lentamente o pensamento
para.
Abre a janela devagar.
Deixa entrar a
Liberdade,
talvez vejas um pássaro
passar.
Não me procures no
espelho.
Já não tenho a imagem
que refleti.
Morri.
A luz recolhe-se para o
fim do horizonte.
Na minha cama estão os
sonhos.
Dorme comigo.
Abraça-me pela cintura.
Sinto-me oca e fria.
Traz-me para a luz do
dia:
a Poesia.
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