sábado, 6 de setembro de 2014

Não me olhes!



 
Foto: J. Casielle
 
 
 
Não olhes para mim.

Ainda não acordei

a minha alma.

Não conheço pontualidades.

Apenas interrogações.

Está tudo suspenso

no meu Mar de escuridão.

 

Não me procures.

Estou refugiada atrás da porta

que guarda pessoas.

Dentro das gavetas

escondem-se Palavras sem voz.

Quando lhes tocamos

sabemos que não estamos sós.

 

Não contes o tempo para me ver.

O Tempo passa depressa

e eu faço horas

para não correr com Ele.

Faço compassos de silêncios

de Palavras insuportáveis.

 

Torço-as para fazer

jorrar a memória.

É assim que fotografo

e conto uma história.

 

Não te aproximes quando,

estendo as Palavras.

Elas mordem-me os lábios.

Ferem-me.

Caio em abismos distantes.

Há nevoeiro.

Ele nada tem.

Preciso de um astrolábio

para me orientar e encontrar a Paz.

Não sei se ela vem.

 

Não me sigas!

As Palavras desconhecidas

dão-me asas

e Norte.

Voo e parto para a Morte.

 

Crio atalhos

no mar movediço.

No corrupio

ouço o que não dizes.

 

Morro no Mar de Letras

que me beija.

Não olhes para mim.

Já não estou aqui.

2 comentários:

  1. Poema Fantástico!! Adorei

    Beijos, bom Domingo

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  2. Nenhum de nós está aqui quando se quer, nem mesmo quando se procura e julga encontrar, pois não passamos de vago sonho virtual. A realidade, essa, é bem mais cruel, se encontrada entre palavras metaforizadas pela imaginação criativa, ainda que caldeada pela sensibilidade... e exposta à luz de quem talvez a não entenda como expressão da arte que nem sempre é vida e quase nunca é letal.
    Quem, amiga, quem andará aqui?... Recuso-me a viver aqui. Evito viver em outro lado, mesmo quando parece que vegeto: entretenho o tempo, ou ele me entretém a mim. E assim os dias correm em direcção ao desconhecido...

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