domingo, 14 de setembro de 2014

O Fruto


 
Foto: Telma Perdigão
 
 
 
Caminho no quarto
obscuro
na procura tátil
da tua mudez.
 
Sei que entre nós
já nada há para falar!
 
Recolhes a fruta amadurecida
para ti apetecida.
 
Com as mãos inflamadas,
descascas o fruto devagar.
Deixas que mostre a sua essência:
pele suave, pura inocência.
 
Debruças-te sobre
o seu rosto
para sentir o gosto
nos teus lábios
traçados
pela língua
que te faz pronunciar
uma palavra sem voz:
beijo.
 
Percorres as linhas
do seu corpo
curvilíneo.
Procuras os espaços vazios
para saciar a sede.
Morde-o devagar.
Saboreia-o lentamente.
 
Para encontrares o prazer
tens de te perder.
 
Agora, fico em ti,
 (re) vestida do teu cheiro.
Procuro o sossego
na excitação entranhada
no que fica.
 
Encontras, assim, o fruto (nada)
proibido
que será sempre consumido
pela chama,
sem fogo,
de quem se ama.

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