sábado, 1 de novembro de 2014

A Elipse


 
Foto: Ognyan Geshev
 
 
 
Há a elipse

da Palavra.

 

Fala-me ao ouvido.

Chama-me.

Eu rendo-me,

rasgando o que me cobre e,

 no obscuro pulsar

dos corpos,

abro os lábios

para te falar de inocência

na ponta dos dedos.

 

Há a elipse

da Palavra.

 

Imortalizo-te

na mesa deserta.

Solto as vogais.

Leio-te de olhos fechados

como se o teu corpo

fosse braille.

 

Há a elipse

da Palavra.

 

A caligrafia é transparente.

É horrível, e por isso,

fica invisível.

Saio na ponta dos pés.

Ainda nada te disse.

Não sei quem és.

 

Há a elipse

da Palavra.

Liberto a língua.

Alio sílabas.

Formo palavras.

Há coisas que não

se consegue dizer.

Tapa os olhos

e vais ver.

 

Encosto-me.

Anseias-me.

Ardo.

Desfaço-me em espuma.

Apeteces-me.

 

Há a elipse

da Palavra.

 

Fica o cheiro

na raiz do papel.

A Palavra morreu.

Fica o eco aceso

do que (não) te disse

em gestos silenciosos.

 

Há a elipse

da Palavra.

 

Amo-te.

4 comentários:

  1. Um texto fantástico!

    Tem um Domingo Feliz

    Beijos
    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  2. Fica o cheiro da saudade no papel.
    Fica a letra que pulsa o silêncio do querer!!!

    Lindo versar!!!

    Beijos

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  3. Sensações à flor do papel.
    Há a elipse da palavra.

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  4. Prezada Ana Pereira seus poemas são de uma grandeza inspiradora. Quando falta-me inspiração fujo para cá para mergulhar neste seu lago particular de emoções e prazeres e revigorar meu intelecto.
    Parabéns!

    https://www.youtube.com/user/estacaodapoesia/

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