domingo, 16 de novembro de 2014

Reversos (In)versos


 
 
Foto: Pour le plaisir des yeux (página facebook)
 
Olho para ela.

Parede singular,

correta,

alinhada,

senhora de si.

Detesto espaços pequenos.

Gosto de estar á larga.

Abro os braços.

Chega aqui. Vou dar-te um abraço.

 

Encaracolo o cabelo

por entre os dedos

e espero que as sílabas

surjam nas ondas

do pensamento.

 

Abro o leque vocabular.

Abano-o devagar.

Aguardo que a brisa

me possa inspirar.

 

Tenho palavras debaixo da língua.

Estão escondidas

e não querem surgir.

Vou comer um chocolate

para que fiquem doces

e para a página queiram fugir.

 

Rasgo a rua.

Fico no meio da estrada.

Escrevo frases nuas.

Quando as letras dão as mãos

com singelos traços

estreito laços.

 

Gastei as palavras todas

pois não eram caras.

Palavras sombrias

em folhas brancas.

Não eram luminosas

mas fantasmagóricas.

 

O que está nas profundezas

emerge.

Surge a Palavra virgem,

diamante bruto.

Não sabe o gesto.

Não sabe a transparência.

Não sabe a invenção da existência.

 

Abro o meu corpo.

Fecho a Alma

de porta aberta,

trespassada pela sombra

que matou a voz.

 

Algo dorme no leito “paginal”.

Fluidos escorrem

nas curvas métricas do corpo.

É a Palavra que se alarga

no espaço deserto

e se perde no tempo,

chegando no momento certo.

 

Perdemos Espaço

para ganhar Liberdade.

À luz fria,

silenciosa,

crua,

esperamos que ela

escape e caia

no abismo do olhar.

 

Apaga tudo o que leste.

Olha para o lado.

Não gostes de mim.

Vinca-te apenas.

Deixa a cama desfeita.

Dorme comigo.

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