sábado, 12 de julho de 2014

Não volto mais


Foto: Graça Loureiro
 
 
Vendo a minha alma
com Palavras cegas
de sentido.
Sacodes o meu corpo.
Fazes a minha cabeça
andar à roda.
Encosto-me.
Não quero embater
no teu mundo.
Vou-me embora!
 
Invento o que sou
por baixo da roupa.
As mãos atravessam a luz
e o que fica
é a noite vazia
que me agarra por fora
e me prende por dentro.
Vou-me embora!
 
Deito-me, sem dó,
por cima de uma caligrafia feia.
Escrevo mal, lamento.
Torno a minha boca vulnerável
com o sopro ligeiro
do respirar das Palavras.
Escondo-as nas nuvens
e solto-as do Céu.
Chove e molha o rosto teu.
Vou-me embora!
 
Abandono –me ao som
diurno dos passos.
Há paz no lugar da Solidão.
Há o Silêncio
quando se enterra o coração.
Vou-me embora!
 
A noite fica transfigurada.
Lentamente,
palavra a palavra,
chega a madrugada.
Lês-me e desvendas-me.
Compreendes as entrelinhas.
Nada há para esconder.
Vou-me embora!
 
Agarra-me.
Solta-me.
Fala-me.
Cala-me.
Escreve-me.
Apaga-me.
Termina.
Recomeça.
 
Vou-me embora.
Não volto mais.
E tu, ficas comigo?

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