sábado, 19 de julho de 2014

Espero-te aqui


 
 
Descalço-me da Vida.

Descalço-me para a poesia.

Envergo palavras de seda

rendilhadas de pérolas

de fantasia.

Reflito a Alma

que emerge no espelho baço

da palavra escrita.

 

Sei que o Amor é sombrio.

É nocturno.

Acende-se, contudo, o rastilho.

Sinto tudo na planta

que emerge da flor

da pele.

 

Roubo-te.

Vamos dançar.

Ficas a meus pés

numa altura que não vi.

Não sei quem és.

Apenas te sorri.

 

Surges pela porta fora

da distância.

Vens inteiro,

quando te descubro

e mergulho a caneta no tinteiro

do teu Amor.

 

És mendigo.

Queres que esteja contigo.

Não me desnudo.

Não sei o que é o Amor,

digo-te.

Não te pedirei um beijo por favor.

 

Abaixo da razão,

a anatomia do beijo

prende-me ao chão.

Estou aqui.

Possuo a tua língua.

Falámos com antónimos.

Beijamos com sinónimos.

Usamos paradoxos:

ardemos no fogo

que não vemos.

Falamos de coisas que não entendemos.

E no fim colhes a flor de inverno.

 

Respiro o Céu.

Estou morta na terra.

Sabemos o que o desejo encerra,

agora.

(Re)visto-me a preto e branco

quando vais em contramão.

 

Fecha a porta.

Volta amanha.

Espero-te aqui.

2 comentários:

  1. Este teu poema é excelente.
    Gostei das tuas palavras, do ritmo, da sonoridade, etc., etc.
    Foste brilhante, minha querida amiga.
    Ana, tem um bom fim de semana.
    Beijo.

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