sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O Bordado



Estico a linha entre os dedos.

Linha de tinta.

Quero que esteja bem esticada

para que reflita algo

que eu não sinta.

Palavras nuas e cruas.

Passo a linha pela minha agulha,

caneta azul,

que desliza suavemente pelo pano branco.

 

Começo a bordar.

O luar ilumina o meu trabalho sombrio.

Estou em contraluz.

Surgem versos agrupados

pois as Palavras não podem estar sozinhas.

Tudo é irregular.

Não há nada de (mili) métrico.

 

Para rematar o bordado, dou pontos certeiros.

Ponto a ponto.

Um ponto de exclamação para entusiasmar.

Quando tenho duvidas,

acabo por me interrogar.

Desfaço o meu bordado

e tenho de recomeçar.

Coloco três pontos para rematar.

Não sei o resultado.

Só no final, é que se verá o bordado.

 

Para dar mais cor e fantasia,

faço de conta que sou a Cinderela

ou a Bruxa Má

que à Branca de Neve deu a maçã.

Não faço comparações.

Ironizo “Está maravilhoso”.

Não é dito pelo escritor.

Minto!

Está tudo nas mãos do leitor.

Espalho antíteses na minha criatividade:

Julgo que é na morte que encontro o poder da Poesia.

Nesse momento iludo o leitor

com um pouco de fantasia.

 

Quero que tudo fique tónico

face ao que apresento.

Se isso não acontecer,

Não é grave.

Não sentirei uma dor aguda.

 

Fico sempre feliz pois é uma parte de mim,

mão de poetisa,

borda as Palavras que chegam ao leitor,

consumidor final, da obra poética.

 

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