domingo, 6 de março de 2016

Mesmo sem roupa


 
Foto: Andrew Lucas
 
A luz ao fundo

imprime o valor

oculto na máquina.

 

Somos pessoas singulares

e todos damos um contributo rentável

que partilhamos.

 

Não sei se sou uma boa contribuinte.

Contribuo para a tua felicidade?

 

Diretamente tocas-me com valores

pois estou vinculada a ti.

Indiretamente toco-te através

das mãos dos outros.

 

Também temos taxas

quando damos e recebemos:

Tu incendeias.

Eu apago o que resta.

 

No fundo,

há sempre um valor acrescentado

em tudo o que fazemos

mas que varia com a sua importância.

 

Voluntariamente ligas-te

ao que se vai tornar uma obrigação.

Incide sobre a realidade,

sobre o que posso dar-te.

Lanço-te na tentativa de saber quem és

e liquido para saber o que fica.

 

Não haverá cobranças

de ambas as partes.

 

Saberás apenas que terás direitos

e contrairás deveres.

Tens personalidade (jurídica), ou não?

 

No final dir-me-ás que isto é ordinário.

Eu digo-te que mesmo a contragosto,

mais tarde ou mais cedo,

todos temos de pagar.

 

Lanço-te um beijo.

Vou ter de o cobrar

mesmo que no final fiques

sem a roupa do corpo.

3 comentários:

  1. Gostei desta metáfora ao IRS...................

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  2. Através da poesia... sempre nos despimos do mundo... e nos damos a conhecer um pouco mais de nós!...
    Mais um belíssimo poema que adorei descobrir... e que me encantou, por aqui!
    Beijos!
    Ana

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