sábado, 23 de julho de 2016

Será que cabes?




Foto: Marta Bevacqua



Abro a boca.

Não suplico.

Humedeço os lábios.

Coloco a língua de fora.

Apenas humidade salivar.



Verifico a bolsa.

Tem lá o dicionário.

As palavras não têm valor algum.

Coloco a mão no bolso.

Está vazio.



O verso está em queda.

Está tudo em fundo perdido.

Tens queda para o abismo?



Não posso usar palavras caras

porque não as posso comprar.

Uso palavras simples.

Singulares.



É preciso dar-lhes corda

(vocal)

para as fazer render.

Mesmo sem rima,

ficam no ouvido.

Não preciso de gastar papel.



Deito-me sobre tábuas

para que contemples na nudez

o que não sabes.

Encontra um cantinho na estrofe.



Será que cabes?

3 comentários:

  1. Magnifico, Ana!...
    Sempre um prazer imenso, ler o que escreves!
    Adoro as tuas abordagens directas, nos teus trabalhos!
    Beijos! Bom fim de semana!
    Ana

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  2. Mais um excelente poema. A mistura das palavras com a emoção refaz o desvio para "um cantinho na estrofe"...
    Beijos.

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  3. Olá, eu há muito tempo que não venho aqui à blogosfera "publicar", ontem resolvi passar, não quer dizer que tenha a assiduidade do antigamente, mas vou tentar.Obrigada pela visita.

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