domingo, 24 de janeiro de 2016

De pernas para o ar


 


Não te falo da dor

que me revolve as entranhas,

dos enganos de alma repetidos

nem da fome dos sentidos.

Não tenho apetite.

 

Hoje lanço-me

de pernas para o ar.

O esqueleto

guardo-o no armário

e a alma na cama.

Está tudo ao contrário.

 

Está tudo invertido,

em repouso,

No quarto

sem passos

nem pássaros.

 

Hoje abandono-me

e perco o caminho.

 

O exterior das coisas

Faz perder a roupa,

deixando à solta

os rios de sangue

a correr pelo chão.

Não contes que, por isso,

me tens na mão.

 

O meu lamento

bate à janela

no soprar do vento.

 

Agora poderei assumir

qualquer posição,

tal como as palavras,

pois então.

 

Talvez este poema

não esteja no ponto.

Talvez deva terminar

com uma virgula.

 

Está tudo de pernas para o ar.

6 comentários:

  1. "Está tudo de pernas para o ar". Concordo.
    Um belo poema.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. peço desculpa, mas o meu comentário poderia levar a interpretações dúbias, quiçá ofensivas, por isso o retirei..

    mas quero dizer que gostei de ler este poema desalinhado...

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  4. E por vezes... só assim, as coisas levam jeito de ser entendidas... quando já não se procuram explicações... e quando o que está de pernas para o ar... é que tem pernas para andar... porque não aceitar?...
    Um belíssimo poema, Ana!
    Beijos
    Ana

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  5. pois é, por vezes achamos que está tudo de pernas para o ar.
    fases que por momentos nos assolam.
    amanhã é outro dia!
    beijinhos
    ;)

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