domingo, 8 de novembro de 2015

Fora de ti


 
Foto: Antonio Diaz
 
 
Os poemas são portas abertas,

dizem,

e por isso não as poderia fechar.

Acabei por me entalar.

 

Dei o meu corpo

ao ofício

e até me cegaram os olhos

de dor.

 

Fiquei fechada cá fora.

Algo se passava do lado de dentro,

debaixo do céu.

 

Sentei-me,

num canto qualquer

à sombra

da luz.

 

Cobri o rosto com as mãos

e fechei os olhos

à realidade e abri os olhos para

a alucinação.

 

Ficou o odor

das rotinas,

do que existe

para além da fronteira

do meu corpo.

 

Ouvi histórias

inventadas

em negros traços orais,

sussurrados em noites brancas.

 

Não conheço o sabor

das palavras salivadas

no céu da boca.

Nunca as disse.

 

O toque trouxe a suavidade

do pó consolidado

do esqueleto que

me agarra o rosto.

 

Disseram-me para escrever

nas paredes

pois são lisas e duras.

Posso gravar o que quiser.

Basta ir para a sepultura.

 

Vela, agora, as  minhas  últimas palavras

caligrafadas,

que te deixo

como herança.

 

Estou fechada cá dentro,

fora de ti.

12 comentários:

  1. Um poema algo desconcertante, mas muito bom. Porque o resultado é quase sempre bom quando o poeta surpreende o leitor.
    Os meus aplausos por mais um excelente poema.
    Tenha uma boa semana, querida amiga Ana.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  2. Os poemas são portas abertas nas quais nos podemos
    entalar (conforme a ventania que nos atinja), e podem ser
    também labirintos onde se torna difícil encontrar saída.
    Ou planícies de liberdade onde espraiamos o olhar
    com delicadeza.
    Belo poema, Ana! Onde parece morar um certo desencanto.
    xx

    ResponderEliminar
  3. fora de tí, ainda bem!
    ötimo!! ótimo!!!!

    ResponderEliminar
  4. Belo poema...!
    Cheio de sabedoria...

    Abraço.

    ResponderEliminar
  5. belíssima a tua poesia - genuína e pura como água das nascentes...


    beijo

    ResponderEliminar
  6. Boa noite!
    Tenho anda afastado, mas cá estou!
    Achei elegante e valioso, o seu blog.
    Saudações poéticas!

    ResponderEliminar
  7. Hoje encontrei o seu blogue e fiquei encantada com as suas poesias.
    Ser poeta é escrever o que vai na alma e conseguir tocar o coração de quem lê.
    Muitos parabéns.
    Um abraço
    Maria

    ResponderEliminar
  8. .

    .

    . por vezes . há quem nos seja de novo o ninho entre as pedras .

    .

    . e abrigo.me . aqui . :) .

    .

    . (.grato.pela.visita.) . propulsora deste respirar .

    .

    .

    ResponderEliminar
  9. Um poema excelente, que nos prende desde a primeira à última palavra...
    Um poema, que nos agarra por dentro... Adorei!!!
    Gosto imenso da forma como escreves... directa... crua... mas apaixonante!
    Beijinhos
    Ana

    ResponderEliminar
  10. As palavras.. em poesia ou prosa, são sempre uma porta aberta.... onde a alam se liberta.. LINDO poema.

    ResponderEliminar
  11. Boa tarde estao muito bonitos os textos muito bem escrito..
    Convido a passar no meu blog sentidoemocional.wordpress.com

    ResponderEliminar