domingo, 14 de dezembro de 2014

A Boca


 

Inclina-te

e fecha os olhos

para o Amor.

Não é preciso ver

o que vai acontecer.

Ele é cego,

já devias saber.

 

Morde-me os lábios,

a curva do desejo.

Faz isso com jeitinho.

Corta a direito

pois tens de desfazê-la com carinho.

 

É preciso usar o sentido

para te ligares

ao Amor.

 

Gosto.

Sabor:

Amargo?

Ácido?

Salgado?

És simplesmente o doce

aperitivo para o meu pecado.

 

Temo o que me vais dizer.

Não digas.

Não quero saber.

Mas não feches a boca.

Pode ser?

 

Não engulas em seco.

Podes-te engasgar.

Rasga as águas

com o teu suave ondular.

Usa a língua para me falar.

 

Deixo-me engolir

pelas palavras que não dizes.

 

Apeteces-me.

Tenho fome de ti.

 

Na madrugada húmida,

penetras nos espaços

e ejaculas o teu beijo

no “céu”,

meu e teu.

 

Prendes-me de uma forma

gustativa a ti.

O beijo é a voz

sem cordas vocais.

 

Apeteces-me.

Tenho fome de ti.

Devora-me.

 

Não sou o capuchinho vermelho.

Tu não és o lobo mau.

Apenas ando a caminhar

na floresta da fantasia

que espelho no mundo da Poesia.

 

Cega-te.

Beija-me.

Devora-me

com a tua língua

portuguesa.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Descansa em Paz


 

Fico com a cabeça nas nuvens.

Cheguei à Lua.

É uma loucura

pensar que, quando se ama

se é pioneiro.

Que nada será melhor que o primeiro.

Somos apenas “espaciais”.

 

Preciso de uma pausa.

Ponto final

Assim se termina algo

antes de começar.

 

Oculto as falas

no discurso indireto.

Nada tenho para dizer.

Vou escrever.

 

Vou inventar um Amor.

Um corpo sem ser gente.

Fecho os olhos.

Aprisiono-te nos meus sonhos.

Cortas o frio quando te dispo.

 

Faço luto.

A minha escrita é negra.

não tenho caneta azul.

Há um rigor (quase) mortal.

A palavra está no horizontal.

Temos de velá-la.

Silêncio.

 

Caminho no túnel de Palavras

tuas

que me engolem.

Aflora no final o verso submerso.

Na homenagem desato cinto branco

que guardo no meu peito.

Assim me deito em ti

e acendo a chama da Inspiração.
 
 

Deixo-te uma rosa

na palma da tua mão.

Foste tu que libertaste as fantasias

nos ecos da Solidão.

Descansa em Paz

na gaveta dos meus sonhos.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O Copo


 
 
Hoje apetecia-me

escrever algo diferente

e simplesmente colocar

as Palavras na horizontal.

Pelo menos nessa posição

dizem que tudo é igual.

 

Queria falar de algo

ardente.

Colocar as Palavras

a fazer Amor, certamente.

Como se faz, não sei.

 

Posso falar-vos de tentação.

Estender as Palavras no colchão

ou fazê-las rodopiar no varão

da caneta.

Como se faz, não sei.

 

Cai o véu branco

sob este meu estado

de indecência.

Vou tirando a roupa

e colocando-a por cima

da inocência

prostrada na cadeira.

 

Deixo os cabelos

caírem nas costas

e deixo britar

flores nas encostas,

curvas de pensamento

pouco racionais.

 

Corpo quente

que deito na cama,

que dispo

e vou ter com ele,

quando me chama.

 

A cama de algodão

absorve todas as essências do céu.

Não me engana.

É todo meu.

 

Fico submersa

na língua

do seu corpo,

Sol que me desperta,

e que faz jorrar de mim

fontes de Eros.

 

Há a essência

impregnada na nudez.

Há o ritmo das subidas e descidas

nas margens onde ancoro.

 

É a língua que nos ensina

o significado do Amor.

Nem é preciso de dicionário.

É despido que se escreve melhor.

 

Tudo se torna certo,

quando fica alinhado no verso.

Atravesso planícies invioláveis.

Deixo o copo vazio de Palavras

em cima da mesa.

 

Não tenho nada para te escrever.

Apetece-te tomar algo?