Inclina-te
e fecha os olhos
para o Amor.
Não é preciso ver
o que vai acontecer.
Ele é cego,
já devias saber.
Morde-me os lábios,
a curva do desejo.
Faz isso com jeitinho.
Corta a direito
pois tens de desfazê-la
com carinho.
É preciso usar o sentido
para te ligares
ao Amor.
Gosto.
Sabor:
Amargo?
Ácido?
Salgado?
És simplesmente o doce
aperitivo para o meu
pecado.
Temo o que me vais
dizer.
Não digas.
Não quero saber.
Mas não feches a boca.
Pode ser?
Não engulas em seco.
Podes-te engasgar.
Rasga as águas
com o teu suave ondular.
Usa a língua para me
falar.
Deixo-me engolir
pelas palavras que não
dizes.
Apeteces-me.
Tenho fome de ti.
Na madrugada húmida,
penetras nos espaços
e ejaculas o teu beijo
no “céu”,
meu e teu.
Prendes-me de uma forma
gustativa a ti.
O beijo é a voz
sem cordas vocais.
Apeteces-me.
Tenho fome de ti.
Devora-me.
Não sou o capuchinho
vermelho.
Tu não és o lobo mau.
Apenas ando a caminhar
na floresta da fantasia
que espelho no mundo da
Poesia.
Cega-te.
Beija-me.
Devora-me
com a tua língua
portuguesa.