Não te falo da dor
que me revolve as entranhas,
dos enganos de alma repetidos
nem da fome dos sentidos.
Não tenho apetite.
Hoje lanço-me
de pernas para o ar.
O esqueleto
guardo-o no armário
e a alma na cama.
Está tudo ao contrário.
Está tudo invertido,
em repouso,
No quarto
sem passos
nem pássaros.
Hoje abandono-me
e perco o caminho.
O exterior das coisas
Faz perder a roupa,
deixando à solta
os rios de sangue
a correr pelo chão.
Não contes que, por isso,
me tens na mão.
O meu lamento
bate à janela
no soprar do vento.
Agora poderei assumir
qualquer posição,
tal como as palavras,
pois então.
Talvez este poema
não esteja no ponto.
Talvez deva terminar
com uma virgula.
Está tudo de pernas para o ar.