sábado, 27 de julho de 2013

A teia do Tempo


O Amor percorre-me lentamente.

Afundo-me na sua memória

nas carícias, beijos e abraços

que preenchem essa história.

Vejo a Saudade a caminhar

vestida de Tempo

com os olhos raiados de esperança

e me solta os cabelos ao vento.

 

Sinto-me inquieta.

Estou deserta.

Vejo pedaços de mim.

Sinto-me incompleta.

Há uma força que se agiganta.

Existe um grito preso na garganta.

Chamo-te e ouves-me.

Ramos no rio ficam presos na corrente.

Deixo-me arrastar lentamente.

Levas-me contigo.

O rio escorrega tranquilo.

 

Encontras-me e colmatas a tua falta.

Entrelaçamos os dedos.

Ficamos suspensos.

A lua afoga o seu brilho nos corpos desnudados.

Prevalecem poemas calados.

Calo-me para consentir.

Na floresta dos sentidos

sinto que te pertenço-te

sem te possuir.

Com o Amor que arde em fogo lento,

ficamos presos na teia do tempo.

O silêncio é derrubado, por fim.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mergulho e floresço


Deitei-me e escureceu.

A sombra ficou esculpida.

Não existe rosto.

Não existe cor.

O corpo alonga-se no leito.

A luz realça as formas.

Tenho uma insónia.

Revolvo-me na cama.

O tempo adormeceu

mais cedo do que eu.

 

A lua está cega.

A noite está alta

e no seu manto caem as estrelas.

As águas rasam os olhos.

 

Procuras-me.

Aqui estou.

Sei que me queres

e eu sei o que te dou.

Trazes magias nas pontas dos dedos.

Tocas na minha pele e revelas segredos.

Escreves poemas nas linhas do meu corpo

com o Amor e o desejo que nos percorre.

Estou a teu lado.

Perto de ti o meu mundo fica completo.

Perto do teu ser o céu fica mais perto.

Mergulho na frescura do teu rio.

Floresço na primavera

poisada nas mãos de quem me encontrou. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O jardim distante


Os jardins estão distantes.

São ternas lembranças.

Flores que mesmo longe da terra

espalham as suas fragâncias.

Trazem muito de nós:

pedaços de saudade que trago na voz.

Trazem muito mais do que o perfume:

trazem a essência de um amor que não morreu.

 

Das palavras ficou o eco.

Dos nossos corpos ficou a sombra.

Do fogo ficou a cinza.

Das mãos vazias ficou o desejo de enlace.

Do meu coração que na tua mão caberia

ficou a esperança de que ele jamais morreria.

 

Agora beijo o horizonte.

A escuridão abraça-me.

O luar fica a meu lado.

Caminho com o meu vestido vermelho comprido

 com a vida depois de ti.

Flutuo.

A noite começa a cantar-me.

As estrelas olham para mim,

As folhas sussurram o teu nome.

Nada me puxa para ti.

Nada me afasta de ti.

 

Vejo-te ao longe entre a sombra e aluz.

Surges perante mim e prendes as minhas mãos soltas.

Afinal existiremos para sempre. 

domingo, 7 de julho de 2013

A Fénix


Nada trago comigo.

Tenho as penas sem brilho.

O olhar está vidrado.

Não sinto vontade de cantar.

Mergulho na profundidade do caos.

Estou extasiada.

Sou a exaltação de feras selvagens.

Tenho fome e sede de infinito.

Ouço o eco do grito das profundidades da gruta.

Não tenho forças.

O tempo escorre.

Tudo morre quando passo.

O Sol queima a terra que piso.

Busco-me devagar por entre os labirintos da gruta.

No seu interior existem monstros e pavões

que assustam quem na cama se deita.

Creio que não nascerão flores.

 

O sangue começa a pulsar na veia

como o mar enrola na areia.

Surge uma sombra de luz.

Inclino-me para ela.

Liberto-me da treva fria.

Morro em mim.

 

O caminho já não está deserto.

Abandono-me a ti.

A primavera faz florir o que não existe.

O dia começa.

A Fénix, pássaro de fogo, renasce e pousa nos teus braços

onde florescem palavras de Amor

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Quando adormeço


Morri, confesso.

Já não sou eu.

Procurei um rosto que fosse metade do meu.

Possivelmente encontrei-o num sonho.

Acordei cedo demais.

Vou dormir.

 

Sou o caos e a agonia.

O silêncio pousa nas mãos

e tu trazes nos teus dedos a harmonia.

A luz arrasta a noite

quando rompes o nevoeiro

e dou o meu corpo inteiro

derramando a tinta do tinteiro

no papel em que escrevo.

 

Digo-te que estou aqui.

Estou viva e não morri.

Estou bem pertinho de ti.

Amo-te mas o horizonte escurece.

Amo-te e estás distante.

Afinal amo o que não tenho.

Estou carregada de pedaços de ti:

são as Saudades que trago no peito alagado pelo Mar de tristezas,

mágoas e incertezas.

 

É isso que me sufoca.

Recebo o meu desejo trazido no teu beijo.

As águas estremecem.

As palavras renascem e descobrem os nossos corpos desnudados.

O céu está aberto.

Os espaços estão desertos

mas preenchidos com o Canto que trazemos na voz.

Quando acordar espero que estejas a meu lado,

caso contrário voltarei a adormecer.