sábado, 24 de dezembro de 2016

O fio e a navalha


Foto: Axel L.


Vejo-me outra

longe de mim.

Faço um rabo de cavalo

para que o corpo

fique descoberto.



Abro as portas

da residência

sem qualquer

resistência.



Quando menos me tocas,

mais me tens.



Esgueiro-me para a esquina.

Em volta da cintura

Lavra o incêndio

que crepita nos dedos.



Afogo a tua sede

depois de me encharcares.

Regresso casta.



A boca obedce

e o sabor se morde.



Há a fusão:

carne e calor.

Arromba-me para que nada reste.



Suspiro.

Imploro para que

sejas a navalha

e eu o fio.

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