sábado, 29 de outubro de 2016

A Finada




Já não há leitores.

Há nudez.

Há quem veja com as mãos;

quem leia com os dedos.

quem fale gestualmente.

As mãos andam nuas.



A poesia é coisa pouca.

Tenho as mãos vazias

na banalidade

da explosão líquida

que ocorre na ruína

do meu corpo.



Os poetas não servem para nada.

Há sempre um mau caminho

para percorrer.

Húmido.

Sem norte.

Deixa-te quente

e leva-te para a frente.





Os poetas deviam encher páginas.

Não deviam deixar vazios.

As pernas abertas

são pontas de estrelas

caídas no vazio

do quarto

crescente.



Que morra a prosa.

Se desejas algo,

estás morto por algo.

O desejo é poesia

que te leva do caixão

à cova.

Morreste?

Uma ova!



Não te escrevo

uma prosa.

Enterra-te.

Deixo-te a rosa.



Fina-se a poesia.

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