quarta-feira, 13 de julho de 2016

Sê fogo




Foto: Imaginatio Sensi

Nasceste selvagem.

Não és de ninguém.

Nunca estiveste só:

as sombras dividiram

o teu corpo em dois.



Rasgaste as entranhas alheias.

Apenas ossos.

Sem carne.

Sempre sofreste de falta de tato.

Mantinhas

o ranger de dentes.



Ninguém chegou até ti.

Deixaste rugidos interditos.



Hoje!

Coloca as garras de fora

sem submissões.



Pisa o risco

sem ser isco.

Não chegues a roupa

ao pêlo.

Deixa-a cair.



Muda de pele.

Incendeia o círculo

de feras.

Não sejas selvagem.

Sê fogo.

2 comentários:

  1. Querida Ana Pereira, gosta destas metáforas em que limiar o que se diz, o que se é, o que poderia ser...temos essa fera dentro da gente, cabe a nós domá-la ou libertá-la se for preciso, como defesa, como ataque...não sei se é por aí o que este poema me inspirou, só sei que existe um selvagem dentro de mim, que tento mante-lo acorrentado. Inspirante poema.
    ps. Carinho respeito e abraço.

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  2. Um poema de leitura imparável, que nos prende a atenção da primeira à última palavra...
    Fantástico, como sempre!...
    Bjs
    Ana

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