domingo, 29 de novembro de 2015

A cama



 
Foto: Bezheviy
 
Quando desejamos,

estamos mortos por algo.

Ficamos no lugar

do morto.

 

Vamos para a cama

e levamos o silêncio

magoado nos lábios.
                            
                           Permite-nos estar direitos,

horizontais

com a ilusão dentro de nós.

 

De mansinho,

damos a mão,

o pulso,

a língua.

As partes não chegam.

Damos o corpo

às palavras engasgadas

na garganta.

 

Brincamos na cama

para atingirmos o ponto

insaciável com elas,

sem proteção.

Respiramos o vazio

entre o teto

e o chão.

 

Quando nasce o dia,

permanecemos acamados,

comprometidos com a saliva

que ficou na almofada,

enquanto dormíamos.

7 comentários:

  1. As nossas necessidades... são limitadas... mas os nossos desejos... são sempre ilimitados...
    Alguns... ficam apenas nas almofadas dos sonhos...
    Outros... fazem-nos dar tudo por tudo, para os realizar...
    Adorei o poema! Forte, vibrante, cru... verdadeiro!
    Beijos! Boa semana!
    Ana

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  2. A imaginação não tem qualquer limite... Belo.
    Beijo.

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  3. Belíssimo poema. Entre os desejos da noite, o vazio entre a cama e o tecto, e os amanheceres acamados.
    xx

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  4. Muito bonito e imaginativo.
    Saudações minhas!

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  5. há desejos assim, que desalinham....

    beijo

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  6. Mais um poema brilhante.
    Gostei imenso.
    Ana, tenha uma boa semana.
    Abraço.

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