quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Autópsia poética

Escrevo o que não sinto
Revivo o que senti.
Recorro ao método científico
Para não toldar o pensamento
Pego no bisturi da razão
Para conferir discernimento.
Nessa maca esterilizada,
branca folha de papel
Estendo o corpo morto de sentimentos
Que abro lentamente
Com pequenos cortes perfeitos.
Espreito por essa janela
para efetuar a palpação
Nessa anatomia de um poema
que não tem coração.
Morreu.
E as feridas foram abertas
Com o prazer que já não é seu.
Já não ardem com o mar salgado.
São apenas os restos mortais
de quem sentiu noutra realidade
E é nesse momento da autópsia
Que o poeta sente a liberdade.
Liberdade retratada a preto e branco
Na emergência de uma alucinação (quase) fingida
Ressuscita na "maca" esse corpo
Na arte morta que é a escrita
No olhar de quem lê e de quem sente:
já não é o poeta, és tu.


Sem comentários:

Enviar um comentário