domingo, 12 de junho de 2016

O Enterro




Foto: Ruslan Lobanov

São 3 da tarde.
Vamos a um enterro.
 
Despe a tua melhor roupa.
Aquela que assenta
que nem uma luva
no meio do chão.
Deves ir apresentável.
 
Aviso-te
que o enterro é no Sul.
Assim já sabes que podemos
perder o Norte.
 
Atravessamos a casa da morte.
Abrimos a noite.
 
Nestes casos nunca se sabe
como devemos estar.
Julgo que apenas
haverá posições a adotar:
De pé a olhar;
Sentada para sentir;
Ajoelhada para venerar.
 
Sentes o sabor
do perfume
líquido das rosas
na boca.
 
Soluço entre as pernas.
Agitas as águas.
Depois de semear ventos,
colhes tempestades.
Não contenho as lágrimas
e elas escorrem nas palmas
das tuas mãos.
 
Caio de joelhos.
Fico suja de terra.
Já nada tenho para vestir.
 
Pela boca morre o pexe
e eu digo que é pela boca
que nascem as árvores
de tronco viril.
 
Ecoa o cântico orgásmico
pelas paredes dos corpos.
 
Sinto o fogo a consumir-me
até me cremar.
Enterras-te comigo
dentro de mim.
 
Ninguém sabe
que morremos.
Ressuscitamos ao terceiro dia.
 
O sinal é o cântico que ecoou aqui.
Ouviste?

4 comentários:

  1. Olá Ana.
    É a primeira vez que venho no seu blog, e já virei seu fã.

    Que poesia bela!
    Cheia de detalhes e imagens que fazem brotar sensações a quem lê.
    Muito bom!

    Virei sempre aqui.

    Tenha uma semana abençoada!

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  2. Como sempre um poema com ritmo e imaginação . Um beijo.

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  3. Fatal! Um espetáculo de poema amiga. Daqueles de tirar a respiração. Beijinhos

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  4. Mais um trabalho extraordinário e surpreendente... que nos agarra da primeira à última palavra... de leitura imparável...
    Adorei!!!! Beijos!
    Ana

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