quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Escultor

Um dia encontrei um escultor
Que se dizia dono e senhor
da obra que criou
Quis saber como ela, sua escrava se tornou
E ele contou.....
 
 
Minha escrava, minha inspiração
Nasceu por entre as minhas mãos
Instrumentos naturais, o meu corpo,
Nada mais.
Era uma mulher sem vestes
Pois não conhecia os seus gostos
Apenas idealizei o seu corpo
quando se despe.
Fiz o barro rodopiar
por entre os meus dedos
Só para a forma lhe poder dar.
Rodopiou e lentamente
consegui delinear as suas curvas
Linhas de perfeição.
Quis desenhar os seus lábios
E senti-los como se fossem reais
E fiz a incisão com a minha língua
Para dar-lhe o sabor
do que era meu.
Acariciei-lhe o rosto
Para que sentisse o meu calor
Alisei os poros mais rugosos
E desci devagar.
Idealizei os peitos que deveriam caber na minha mão.
Demasiado grandes não.
Curvas delicadas, de pele branca
E com as pontas dos dedos
Realcei as suas saliências
Marcas da sua inocência.
Como felino sedento
Esculpi o monte de Vénus
junto à fonte do prazer
Que estava seca mas com a minha língua
desejei que água começasse a nascer.
Passei com as minhas mãos sobre a paisagem
E naquele momento, como uma criança,
Desejei que fosse real
E nessa esperança
Fechei os olhos para fantasiar
E Ela ganhou vida.
Saciei-me, por fim, na sua fonte,
De uma forma tão necessária
E deixei-me embalar por essa música
Os seus gemidos
que a fizeram cair de joelhos.
E foi nesse momento que soube
Que me iria satisfazer
Dando o melhor ao seu Senhor:
a sua possessão numa mesa de pedra num dia de inverno. 

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