domingo, 5 de março de 2017

A metáfora






Foto: Tony Schuller


“Tenho pena de ti”.

Estou com a pena suspensa.

Prestes a ser condenada

Sem ainda ter feito nada.

Uma lágrima de crocodilo

no canto do olho.

Não escrevo mais

para não abater

mais árvores.



Não digas que adoras

os meus olhos.

São apenas dois globos oculares

com uma irís colorida.



Não desejes o beijo.

São apenas trocas de fluidos

salivares.

Não os compares ao mar.

Ele é imenso mas não

mata a sede.



O coração não tem sentimentos.

É apenas um músculo

que bate ao ritmo

da tua massa cinzenta.



Nunca me apaixonarei

à primeira vista.

É bonito mas eu tenho duas.

Eu não gosto de mentiras.



O poema ensina

a cair.

Mantem-te firme.

Eu já estou com

os cabelos em pé.



No final,

a metáfora

é o véu do que sentes.

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