sábado, 13 de agosto de 2016

Não falamos


Foto: Igor Lateci



Nunca fui reta.

Andei em ziguezague

e por vezes em paralelos.

Facilmente escorreguei.



Hoje,

olho para o espelho

e o que é faminto,

obsceno

repousa nos fios dourados

da cabeça

que não pensa.



Mastigo as palavras

que me ardem nos olhos.

Mantenho-me direita

para digerir bem

os alimentos quentes.

Dispo-me do que não faz falta.



Sento-me

e a temperatura sobe 90 graus

e do lado oposto

ficas tu e rasas tudo

sem planos inclinados.

Apenas horizontais ou verticais.

A temperatura sobe

aos 180 graus.


Fica o corpo incandescente

que germina feito semente.

Damos um giro de 360

no enlace.


Do chão surge a solidez

do que nos suporta.

A vida existe na

fértil humidade.


Ecoa o silêncio dos corpos.

Não falamos.

Poetizamos apenas.

2 comentários:

  1. Pois! Sem palavras, aqui deste lado... perante o teu talento esmagador! Mais um trabalho admirável... em toda a linha... :-))
    Beijinho
    Ana

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