sábado, 20 de fevereiro de 2016

Aqui há gato!




Foto: Angela Vicedomini



Nem sei como começo

porque aqui há gato

e isso não tem nexo.

 

Chamas por mim.

És felino.

Com olhar paciente,

passos perspicazes,

garras afiadas.

 

Não fujo de ti.

Fujo para ti.

 

Não compreendes as palavras,

então não tas direi.

Posso beijar-te

para as encontrar,

Elas são isentas de vontade

e desejo,

embora andem enroladas

na língua.

 

Talvez perca a respiração.

Talvez seja melhor

abrir a janela

e oxigenar o coração.

 

Passo a mão pela tua

cabeça para descobrir

o que pensas.

Ronronas o que sentes

de olhos fechados.

 

É quase certo

estares perto

quando sinto o calor

que imana do fundo de ti

quando deslizo

para te apanhar.

 

São precisos pontos de contacto

para haver a sintonia perfeita

dos corpos enrolados

nos lençóis

com a cabeça na travesseira.

  

Não precisas de correr

atrás de mim.

Vai correr tudo bem,

ronronas.

 

Eu não (faço)

correr mais tinta.

Afinal não há nenhum poema aqui.

Aqui há gato!

2 comentários:

  1. Aqui há um gato que inspirou este belo poema que tem todo o nexo... Gosto sempre.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  2. Um gato inspirador... de cortar a respiração e oxigenar o coração... deu azo a um belíssimo poema...
    Adorei!
    Beijinhos
    Ana

    ResponderEliminar