sábado, 17 de outubro de 2015

Sem palavras


Foto: Katia Chauseva
 
 
 
Da minha varanda

vejo uma toalha

a baloiçar.

Diz que pode voar

com a língua do vento.

 

Engulo em seco.

Não tenho palavras para vomitar.

 

Tenho a voz mutilada

e o coração é um

nó cego.

 

Tenho uma corda

de insónias

pendurada no pescoço.

Tenho pouco tempo de vida.

 

Felizmente,

o tempo terminará quando

me fizer pó.

 

Corri a mão

e desço as escadas:

ângulos retos tridimensionais.

Falar de nudez

é falar de mãos.

 

O chão estremece

num clarão

a cada passo que dou.

 

Vejo uma cortina de gritos

mudos a meus pés:

a sombra que existe

para quem “é”.

 

Escrevi-te.

Tudo se tornou claro.

 

A toalha continua a baloiçar.

Não voou.

22 comentários:

  1. Um texto muito bonito, e tocante! E mais uma vez, brilhantemente conjugado com uma boa escolha de imagem!
    Mais um post excelente, que gostei imenso, de apreciar, por aqui!
    Beijos! Bom domingo!
    Ana

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  2. sem palavras...digo-te que amei demais!

    bj

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  3. Gostei bastante do teu poema.

    Boa inspiração, sem dúvida

    Obrigada pela agradável visita

    Bjgrande do Lago

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  4. Não foram precisas palavras ditas.
    Gostei muito deste teu espaço.

    Um beijinho

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  5. Olá!
    Muito bom o seu estilo de poesia... me agrada!
    Obrigada pela sua visita.
    Bjs

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  6. Quando se escreve com amor e sobre amor, passado ou presente, o vento nada leva. Ele sabe das consequências dos seus tresloucados atos, assim tudo fica leve, predisposto, à mercê.
    O seu texto está bem "engrenado" e com bastante imaginação lírica. Regozijo-me pelo retorno.

    O "coração de tinta" jorrou vermelho e com intensidade.

    Beijo e bom fim de semana.

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  7. Gosto da imagem, que encima as suas palavras, devo acrescentar. O vento, o tal de que fala, despenteou, aparentemente, a mulher, que continua, deliberadamente, assumida.
    Ela, a imagem combina muito bem com o seu texto, um tanto melancólico, um tanto estoico.

    Dias felizes!

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  8. Tantas palavras num silêncio que restou.
    Magnífica, embora desconcertante, poesia!

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  9. Palavras soltas ao vento. Um poema algo misterioso...
    Beijo.

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  10. Nostálgico e sombrio mas com a beleza de belas imagens
    Beijinhos

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  11. Olá Ana!
    Um belo blog, uma bela foto,um belo poema sobre a irremediabilidade
    das coisas.
    Bom fim de semana!
    xx

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  12. No Outono as sombras projectam-se no chão

    que se levanta

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  13. adorei!

    www.pinkie-love-forever.blogspot.com

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  14. Olá Ana, um poema um tanto enigmático que mais me parece um "grito"e que gostei muito. A imagem à altura do mesmo. Beijos com carinho

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  15. Ana!
    Que poema gostoso de se ler.
    O qual esta a expressar um pouco de tudo de uma forma harmoniosa, com dizeres profundos de real significado.
    Amei seu Espaço num todo, por isso ja estou a te seguir.
    Convido-a a fazer parte de uanderesuascroniocas.
    Bj de carinho seguido de um ótimo final de semana.

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  16. Olá Ana,

    Agradeço o seu convite novamente para visitar o seu espaço.
    Eu já estive aqui, comentei e apreciei a sua arte poética.
    Mas, na ocasião não tinha conseguido ficar seguidora, pois
    a janela não abria. Hoje consegui.
    A imagem belíssima, que acompanha muito bem o belo
    poema enigmático, revelando:
    "Tenho a voz mutilada
    e o coração é um
    nó cego."
    Os mistérios da impermanência do tempo, das palavras
    e da vida... Talvez uma transcendência que se presentifica
    na sombra, nas lembranças...
    Fiquei encantada com esta sua magistral construção:
    "Falar de nudez
    é falar de mãos."
    Beijinhos.

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  17. Lindos e inspiradores versos. Uma feliz e abençoada semana.

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  18. OI ANA!
    UM POEMA NÃO PODE SER EXPLICADO, POIS MUITAS VEZES NEM O POETA QUE O ESCREVEU PODERIA FAZÊ-LO E SABEMOS QUE, PARA A ARTE NÃO PODE EXISTIR DEFINIÇÃO POIS, ELA PROVÉM DA ALMA!
    TEU TEXTO É EXUBERANTEMENTE BELO.
    ABRÇS
    -http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  19. Meu Deus, que poesia é esta, flutuei nas palavras, nos ganchos entre elas, e meus sentimentos tentando bailar com o poema...tou sem palavras, e olha que as cultuo...terei de ler mais vezes, voltar mais vezes...um poema encantador.
    ps. Carinho respeito e abraço

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  20. Gostei do que li e prometo voltar com mais tempo.
    Obrigado pela visita

    Abraço
    Runa

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