sábado, 7 de fevereiro de 2015

Abençoo-te


 
Foto: Andreas Day
 
 
 
A Alma é

um corpo nu.

Nas mãos mantenho algemado

um Desassossego.

Restrinjo-me a uma sombra.

Piso a terra

que também serve para

morrer.

 

Tudo fica sobre terra.

Acima do Inferno.

Abaixo do céu.

Deixa que o vento

eleve as cinzas do chão.

Nada do que vive

fica no caixão.

 

Evapora a voz.

Solidifica o corpo.

Condensa o grito.

Anda nas nuvens.

Vagueia na madrugada.

Vê o dia nascer.

 

Prepara-te.

Vou levar-te

a um lugar

onde vou estender

o céu

devagar.

É um céu fechado

de Palavras.

Os anjos estão a arrumar

as estrelas

em gavetas de algodão.

 

Conhece-me por detrás

da Luz.

Desmancha o meu corpo

com os teus gestos.

Espera que corra a água pura.
 

Assim, te abençoo

no céu

com a prosa dos poetas:

 palavras de ternura

sem estrelas.

3 comentários:

  1. NÃO TENHO COMENTÁRIOS. NEM POSSO COMENTAR.
    Apenas...sletrar, devagarinho.

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  2. Belíssimo!
    Estes versos, Ana, não são para serem comentados. Eles se bastam.
    Um grande abraço, Ana!

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