Foto: Ognyan Geshev
Há a elipse
da Palavra.
Fala-me ao ouvido.
Chama-me.
Eu rendo-me,
rasgando o que me cobre
e,
no obscuro pulsar
dos corpos,
abro os lábios
para te falar de
inocência
na ponta dos dedos.
Há a elipse
da Palavra.
Imortalizo-te
na mesa deserta.
Solto as vogais.
Leio-te de olhos
fechados
como se o teu corpo
fosse braille.
Há a elipse
da Palavra.
A caligrafia é
transparente.
É horrível, e por isso,
fica invisível.
Saio na ponta dos pés.
Ainda nada te disse.
Não sei quem és.
Há a elipse
da Palavra.
Liberto a língua.
Alio sílabas.
Formo palavras.
Há coisas que não
se consegue dizer.
Tapa os olhos
e vais ver.
Encosto-me.
Anseias-me.
Ardo.
Desfaço-me em espuma.
Apeteces-me.
Há a elipse
da Palavra.
Fica o cheiro
na raiz do papel.
A Palavra morreu.
Fica o eco aceso
do que (não) te disse
em gestos silenciosos.
Há a elipse
da Palavra.
Amo-te.