sábado, 18 de maio de 2024

O Batom

 



 
Há quem nunca seja um assassino em vida:

quem nunca matará saudades

quem nunca matará a fome.

há quem morrerá por não o fazer.

Há quem mantenha as mãos frias

mas que terá um coração esfriado pela falta

de algo amoroso.


Eu passarei o batom vermelho nos lábios.

 

no meio de tudo isto,

ainda há uma certa esperança:

quando uma estrela passar no céu,

alguém pedirá desejos.


Eu passarei o batom vermelho nos lábios.

 

Entre dentes deixamos as palavras

aprisionadas mas,

quando entre  os lábios as soltamos,

carimbamos o corpo de alguém.

 

Eu passarei o batom vermelho nos lábios.

 

Acredito que as palavras podem ser vãs

quando as digo.

Irei escreve las

para que acreditem num papel passado

pois é credível e  assim,

saberei que continuarei a existir.

 

 Com o batom vermelho nos lábios.

 

sábado, 4 de maio de 2024

A Paisagem

 


Há tantas palavras abandonadas nas prateleiras

e tu nunca as recolheste.

Limitaste te a percorrer o corredor escuro.

Apenas o orvalho cintilava nas paredes

onde cresciam  plantas silvestres.

Limitaste te a arrastar o teu ser em ruina

para não ficares fechado  lá dentro.

Onde a luz se deleita,

percebeste que há lugares onde as palavras

são desnecessárias quando,

 depois de se desbravar mar,

se descobre uma paisagem devastada

que vale a pena voltar a visitar.