domingo, 4 de janeiro de 2015

Intromissão


 
Foto: Pour le plaisir des yeux (página do Facebook)
 
Desculpem.

Preciso de orientação.

Foi de passagem

que perdi a inspiração.

 

Rabisquei o papel com

palavras feias,

erradas,

ilegíveis,

esborratadas.

Até dá vontade de chorar.

Estou a brincar.

 

O pensamento vagueia

mas não me vou inspirar

na Lua Cheia.

Quero algo verdadeiro

e ela só me fala de mentiras.

Afinal ela é vazia.

Não mora lá ninguém.

 

Irritam-me as palavras

carnais.

Nada tentador.

Não posso agarrar

aquilo de que não sinto calor.

 

Não vou escrever sobre sonhos.

Não vou dormir.

Tenho um problema no olhar.

Apenas vejo ao perto.

O que esta longe não consigo alcançar.

Aproxima-te

para te ler melhor.

 

Deito-me a adivinhar

onde podes tropeçar.

Será que é neste verso

ou irás continuar a recitar- (me)?.

Quero ver se te consigo agarrar.

 

Não me quero deitar.

Detesto o que é paralelo.

Prefiro que sejas reto

e vás direto ao ponto.

Caso contrário,

nunca nos encontraremos.

 

Escondo as mãos

nos novelos

dos meus cabelos

e torno-me uma mulher despenteada.

Não fiquei bonita.

Apenas queria aquecer as mãos,

mais nada.

 

Crio estas imagens em silêncio

sobre a espuma das palavras

que me molham os pés.

Entre a Lua e a maré.

Navega em mim

para saberes como é.

 

Tapem os ouvidos.

Apetece-me gritar.

Estou a falar para as paredes,

entendes?

 

Desculpem a intromissão.

Vão ler poesia a sério.

Eu dou permissão.

1 comentário:

  1. Invejo-te. Ah, como gostaria de passear pelas palavras com tamanha desenvoltura e beleza e sensibilidade e singeleza e lascívia e... estais vendo?
    Invejo-te. Lindo.

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