domingo, 25 de outubro de 2015

Inutilidade


 
 
Foto: Hamanov Vladimir
 
 
Isto será inútil.

Não cansem os vossos olhos a ler-me.

Para nada serve.
 
 

Por trás do vidro embaciado

existe algo:

uma sujeita com os olhos abertos

para o sono eterno.

 

Reflito, sem pensar,

na janela em movimento

onde um fio de água

estala o vidro na diagonal

e me transforma em bidimensional.

 

A cabeça cai nas mãos.

Perdi a racionalidade.

O corpo morre na sombra

esquecida.

 

Tenho o peito seco,

os braços abertos

para receber as vossas preces

e o coração antónimo.

Já não bate.

 

Fico sob terra,

acima dos comuns mortais.

É inútil a inspiração

da carne

que amamos com o avesso da alma.

 

A folha é estéril.

Continua casta.

A mim só me resta a nudez

das mãos inertes

e uma mancha de tinta.

 

São inúteis as palavras,

neste momento.

11 comentários:

  1. Que grande inspiração, Ana!
    Excelente.
    xx

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  2. Belo poema, belo blog. Adorei a atmosfera envolvente assim que se entra aqui.
    Bom demais!

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  3. Achei maravilhoso, Ana!
    Tocou-me profundamente...
    Parabéns e obrigado por estes versos.
    Um grande e fraterno abraço, Ana!

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  4. Versos de sentidos à flor da pele, em que se irrigam veias abertas.
    Bela postagem!
    Grata por tua visita em meu "Baú de Guardados".
    Beijos.
    Genny

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  5. As palavras só são inúteis quando o silêncio é maior...
    Um belo poema.
    Beijo.

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  6. Apreciei o teu Poema e não quero deixar de "avaliar" o que leio.
    Gosto do tema e do modo de o apresentares. Tens futuro.
    Parabéns.

    SOL

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  7. um pouco "sombrio" teu poema....

    ... e no entanto prende-nos sua beleza.

    dominas na perfeição a "arte" de escrever boa Poesia.

    beijo

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  8. Belíssimo!
    Às vezes são inúteis as palavras... quando não traduzem a emoção... não é o caso do teu poema... belíssima a forma como nos agarras a atenção, desde a primeira à última palavra, do teu poema... adorei!
    Bjs
    Ana

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  9. TODO ES FABULOSO, SIN DESPERDICIOS PARA GUARDAR...!!!

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