sábado, 31 de maio de 2014

Desassossega-me


 
Foto: Andreas Day
 
 

Num poema de inverno

encontro o retrato

abstrato,

sombrio.

Vejo-o na esquina das coisas visíveis,

no contorno

de coisas impercetíveis.

 

Apago-me no papel.

Torno-me tátil.

Sou a libertação

de versos armadilhados

que me deixam

no abismo da Solidão.

 

Rasgo os papeis.

Divido-me em silabas

soadas numa noite qualquer.

Invento coisas comuns

para dizer.

 

Há algo que fica.

Há o grito que não termina.

O espelho não é claro.

Desfoca-me.

 

Traço-te.

Desfaleço no teu sorriso.

Atas-me.

Soltas-me

em linhas indiscretas.

 

Desfaz as minhas palavras.

Devora-me.

Enreda-me na teia

sem voz.

Delira.

Cai na armadilha.

Sê meu.

Desassossega-me

(outra vez).

2 comentários:

  1. Bom dia Ana Pereira

    Que maravilha de poema. Parabéns.

    Votos de um excelente Domingo.

    Beijinho

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  2. Desassossego... é lembrar o que passou e não se quer modificar...

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